Thursday, 24 July 2008

a noite.

Bar cheio. Música desconfortavelmente alta.
As pessoas bebem, fumam, dançam, curtem, riem e sorriem.
Ao canto, um grupo de raparigas. Dançam e falam e cantam as músicas. Fumam e bebem e riem alto. Eu sou uma delas.
Lindas, magras, divertidas. Eu sou a excepção.


Tento disfarçar o quão deslocada me sinto: danço e rio e canto, mas por dentro apetece-me chorar e gritar e fugir. Não, calma! Fica aí, esquece os outros. Esquece-as a elas.
Sinto os olhares de todos cravados nas costas. Parem! Parem, por favor!
Afasto-me do grupo, afasto-me dos olhares, sou invisível. Respiro.

Observo todos á minha volta. Elas são claramente o centro das atenções: alguns olham descaradamente, ávidos, outros discretamente; uns tentam aproximar-se, outros sorriem e ficam a observar de longe. Que lindas são elas! Que energia, que optimismo emanam! Estou claramente no sítio errado.

Preparo-me para ir embora, mais eis que uma delas vem ter comigo, e puxa-me para o grupo.
Que querida! Aliás, todas! Como gostam de mim... ou daquilo que pensam que sou.

De novo os olhares. De novo os olhares e os sorrisos discriminatórios. Não... por favor! Parem!
Eu não tenho culpa de não ser como elas...! Sim, tenho... Mas não é algo que eu queira! Parem... Não me olhem assim.

Começo a dançar, incontrolavelmente. Porquê? Para tentar esconder o que estou a sentir. Ninguém pode saber, ninguém! Se eu deixar transparecer um fiozinho que seja... nunca mais me deixam em paz.

Danço, danço, danço. Canto. Rio-me. Nunca serei uma delas. Fumo um e outro cigarro. Nunca serei como elas. Cai-me uma lágrima. No meio da confusão ninguém repara, e ainda bem. Horas de ir.

Thursday, 24 January 2008

Levou-os o vento.

Sinto-me doente.
Não fisica mas psicologicamente. Psicologicamente doente.

Quero ajuda, mas ao mesmo tempo quero só estar sozinha.
Quero curar-me, mas ao mesmo tempo, estar sempre doente.

Os 50, oh... foram-se.

Wednesday, 18 July 2007

A notícia.


A tarde estava fria, escura. O céu carregado de nuvens cinzentas, ameaçadoras. Manuela saiu do grande edifício, e guardou a chave do carro no bolso do casaco. Hoje iria dar um passeio até ao parque. Há muito tempo que tinha acabeça demasiado ocupada, para sequer poder apreciar um pequeno passeio. Precisava de arejar...

Enquanto caminhava, continuou a contemplar o céu, tão assustador, que ameaçava desfazer-se em pequenas gotinhas de água a qualquer momento. Os pensamentos inundavam-lhe a mente, agrediam-na na alma.

Realmente iria chover, não tinha dúvidas, mas ela não se importava. Gostava de correr á chuva, e sentir os cabelos molhados colarem-se-lhe na face. Gostava de sentir aquele friozinho penetrante, da roupa molhada colada ao corpo magro. Oh, como desejava que chovesse...! Como ansiava que a chuva viesse e a purificasse!


Chegada ao parque, sentou-se num banco de madeira; naquele banquinho onde outrora tinha estado a namorar, a falar de tudo e de nada, a rir e a sorrir. Os seus lábios contraíam-se, apertando o choro. Respirava fundo, tentando manter-se calma, mas aquela sensação que a acompanhara o dia inteiro sufocava-a!...


Ao longe viu um clarão. O céu a ser riscado. Pouco depois o barulho do trovão.

Que lindo...! - pensou.

Abriu os braços e ergueu a cabeça para o céu, de olhos fechados, como que a dormir ou a sonhar. A chuva começou, lentamente a cair. E com ela vieram as lágrimas.

Manuela chorou, chorou. E a chuva caía, cada vez com mais força. E as lágrimas, continuavam a correr pela sua face, embora imperceptíveis, camufladas nas gotas violentas de chuva. Os relâmpagos iluminavam o céu, agora muito mais escuro, e o trovão rolava por cima da sua cabeça. E Manuela continuava a chorar baixinho, sentada naquele banquinho, que lhe trazia tantas recordações.


Passara-se bastante tempo, talvez umas duas horas, desde que ali chegara, e a tempestade começara a amainar. Já seriam sete horas, mas não sabia ao certo, não tinha relógio consigo. Procurou o telemóvel (nada preocupada com o facto de estar a chover e de o poder ter estragado), mas em vão. Lembrou-se então, que o deixara no quarto do hospital, na mesinha onde estavam os remédios do seu marido.

Menos mal. - pensou. Estava a apetecer-lhe caminhar sob aquela chuva que lhe lavava a alma. Resolveu ir a pé para casa. - Virei buscar o carro amanhã.

Caminhou, lentamente, para casa, indiferente aos olhares de espanto das pessoas. Não lhe apetecia apanhar o metro, ou o autocarro, queria andar!


Tocou á campainha, pois deixara as cahves de casa no carro, e foi Inês, a sua filhinha quem veio abrir a porta. Nesse momento, toda a calma se evaporou, e uma angústia e um medo invadinaram-na. Ela era tão pequenina, tão frágil...! Como iria contar-lhe?

Abraçou a filha e beijou-a na testa.

- Vai para o quarto Inês, a mãe já lá vai.

- Que tens mamã? - perguntou, inocente, a criança. - A avó está a chorar, e o avô saiu com a tia Laura. E o telefone está sempre a tocar e não me deixam atender e...

Madalena colocou um dedo em frente á boca da menina e pediu-lhe suavemente:

- A mãe já te explica, vai para o teu quarto. Vai.

Dirigiu-se á sala, com o coração cada vez mais apertado. Desta vez foi a irmã, Clarissa, que se lhe dirigiu.

- Madalena...! Estávamos tão preocupados! - as lágrimas escorregavam-lhe dos olhos, a ela também. - Eu fiquei lá depois de teres saído... Tentei telefonar-te... Oh, Madalena, minha querida... Senta-te, senta-te...

- Eu já sei Clarissa. - sim sabia-o. O seu coração tinha-lho dito. - O Octávio morreu.
[eh, ás vezes dá-me para isto...
Hope you like it... :X ]

Monday, 25 June 2007

Fat, ugly girls deserve to cry.

É como sentir o mundo escapar pelos dedos, como a areia da praia.
É como sentir-se tonta, e perder o esquilíbrio.
É sentir uma angústia, uma insegurança.
É ter medo. É chorar.
É querer gritar.
É querer ter uma mãe a embalar-nos.
É percisar de um abraço bem apertado.
É sentir que está tudo fora de lugar.
É sentir que não se tem lugar.

Porquê?
Faço a pergunta uma e outra vez. Porquê? PORQUÊ?

Será que não há lugar para mim?
Será que se esqueceram de mim?

Esqueceram-se de me nomear uma fada madrinha, com certeza.
Não quero ser uma gata borralheira para sempre.

Monday, 21 May 2007

*Make a Wish*

Pedi-te a uma estrela.

"Catch a falling star and put it in your pocket,
Never let it fade away...
Catch a falling star an’ put it in your pocket,
Save it for a rainy day..."

Esperança. Felicidade. Optimismo. Pois sim.
É exactamente isso que eu afasto de mim. Não com esse propósito, mas pelas coisas que faço.

É como se o mundo escapasse das minhas mãos. Como se não conseguisse controlar o meu corpo. Controlar a minha mente. Como se não tivesse poder sobre nada.

Afinal porque é que eu faço isto?
Porque é que sou fraca, e não consigo evitar fazer coisas pelas quais me vou castigar depois?
Comer. Comer é o meu problema.
E recentemente tornou-se um vício.

E agora, lá vou eu. Caminhar durante uma hora. E ao chegar, abdominais.
Tudo por um corpo perfeito. Para que TU me ames...
Valerá a pena?
E se mesmo assim, não me amares?



Sunday, 6 May 2007

Behind the scenes. Behind the mask.

O que é preciso é sorrir. Sorrir e dizer olá a toda a gente. Falar de roupas e de rapazes. Dizer que os nossos pais não nos compreendem e que os professores são uns estúpidos. Estar sempre na moda e adorar Bob sinclair. Isso é ser normal.

Pois bem, não sou normal.
Já não tenho vontade de sorrir, nem de estar com pessoas. Só quero estar sozinha, com o computador e os livros da escola e a balança.

Estou a ficar obcecada, sim, eu sei. E gosto. Gosto de me sentir eufórica ao ver que o meu peso baixou. Gosto de me sentir satisfeita quando ao fim do dia reparo que consegui ingerir apenas 200kcal. Gosto quando o meu jantar é um café. Gosto. Sinto-me bem quando a mesma balança que marcava 54kg, marca agora 50kg. Tremo de emoção só de pensar que um da vou olhar para essa mesma balança e ela vai marcar 45kg.

As pessoas dizem "oh, estás bem assim!" , "estás jeitosa!" , o que torna tudo muito mais difícil, quando o rapaz por quem tens um fraquinho se baba a olhar para uma rapariga linda, magra. Ou quando compras uma saia linda, que te fica horrivelmente (porque és gorda). Para ajudar á festa ainda há o comentáriozinho "Pois, este tipo de saínhas fica melhor quando se está mais magrinha... Tenta o número acima...".

Não. Cansei-me.
Estou farta de ouvir isso. Quero ser magra. Nem que para isso tenha de sofrer de um distúrbio alimentar.

E não, não são futilidades. Ou talvez até sejam. Não quero saber.
Não sou bonita. Já não sou inteligente. Os meus amigos pura e simplesmente não querem saber de mim para nada. Não sou nada. Não passo de uma miúda que anda de preto e tem umas roupas estranhas. A anti-social que já foi simpática. A feia.


Ontem tive uma complusão depois de um jantar de aniversário.
Tentei vomitar tudo, mas, como sempre não consegui.
No fim só consegui sentir nojo e pena de mim própria. A que ponto cheguei eu?


Mas, shiu. É segredo. Ninguém pode saber. Tenho de sorrir, e fingir que está tudo bem.
Ninguém pode saber o que está atrás da máscara.