
A tarde estava fria, escura. O céu carregado de nuvens cinzentas, ameaçadoras. Manuela saiu do grande edifício, e guardou a chave do carro no bolso do casaco. Hoje iria dar um passeio até ao parque. Há muito tempo que tinha acabeça demasiado ocupada, para sequer poder apreciar um pequeno passeio. Precisava de arejar...
Enquanto caminhava, continuou a contemplar o céu, tão assustador, que ameaçava desfazer-se em pequenas gotinhas de água a qualquer momento. Os pensamentos inundavam-lhe a mente, agrediam-na na alma.
Realmente iria chover, não tinha dúvidas, mas ela não se importava. Gostava de correr á chuva, e sentir os cabelos molhados colarem-se-lhe na face. Gostava de sentir aquele friozinho penetrante, da roupa molhada colada ao corpo magro. Oh, como desejava que chovesse...! Como ansiava que a chuva viesse e a purificasse!
Chegada ao parque, sentou-se num banco de madeira; naquele banquinho onde outrora tinha estado a namorar, a falar de tudo e de nada, a rir e a sorrir. Os seus lábios contraíam-se, apertando o choro. Respirava fundo, tentando manter-se calma, mas aquela sensação que a acompanhara o dia inteiro sufocava-a!...
Ao longe viu um clarão. O céu a ser riscado. Pouco depois o barulho do trovão.
Que lindo...! - pensou.
Abriu os braços e ergueu a cabeça para o céu, de olhos fechados, como que a dormir ou a sonhar. A chuva começou, lentamente a cair. E com ela vieram as lágrimas.
Manuela chorou, chorou. E a chuva caía, cada vez com mais força. E as lágrimas, continuavam a correr pela sua face, embora imperceptíveis, camufladas nas gotas violentas de chuva. Os relâmpagos iluminavam o céu, agora muito mais escuro, e o trovão rolava por cima da sua cabeça. E Manuela continuava a chorar baixinho, sentada naquele banquinho, que lhe trazia tantas recordações.
Passara-se bastante tempo, talvez umas duas horas, desde que ali chegara, e a tempestade começara a amainar. Já seriam sete horas, mas não sabia ao certo, não tinha relógio consigo. Procurou o telemóvel (nada preocupada com o facto de estar a chover e de o poder ter estragado), mas em vão. Lembrou-se então, que o deixara no quarto do hospital, na mesinha onde estavam os remédios do seu marido.
Menos mal. - pensou. Estava a apetecer-lhe caminhar sob aquela chuva que lhe lavava a alma. Resolveu ir a pé para casa. - Virei buscar o carro amanhã.
Caminhou, lentamente, para casa, indiferente aos olhares de espanto das pessoas. Não lhe apetecia apanhar o metro, ou o autocarro, queria andar!
Tocou á campainha, pois deixara as cahves de casa no carro, e foi Inês, a sua filhinha quem veio abrir a porta. Nesse momento, toda a calma se evaporou, e uma angústia e um medo invadinaram-na. Ela era tão pequenina, tão frágil...! Como iria contar-lhe?
Abraçou a filha e beijou-a na testa.
- Vai para o quarto Inês, a mãe já lá vai.
- Que tens mamã? - perguntou, inocente, a criança. - A avó está a chorar, e o avô saiu com a tia Laura. E o telefone está sempre a tocar e não me deixam atender e...
Madalena colocou um dedo em frente á boca da menina e pediu-lhe suavemente:
- A mãe já te explica, vai para o teu quarto. Vai.
Dirigiu-se á sala, com o coração cada vez mais apertado. Desta vez foi a irmã, Clarissa, que se lhe dirigiu.
- Madalena...! Estávamos tão preocupados! - as lágrimas escorregavam-lhe dos olhos, a ela também. - Eu fiquei lá depois de teres saído... Tentei telefonar-te... Oh, Madalena, minha querida... Senta-te, senta-te...
- Eu já sei Clarissa. - sim sabia-o. O seu coração tinha-lho dito. - O Octávio morreu.
[eh, ás vezes dá-me para isto...
Hope you like it... :X ]

