Bar cheio. Música desconfortavelmente alta.
As pessoas bebem, fumam, dançam, curtem, riem e sorriem.
Ao canto, um grupo de raparigas. Dançam e falam e cantam as músicas. Fumam e bebem e riem alto. Eu sou uma delas.
Lindas, magras, divertidas. Eu sou a excepção.
Tento disfarçar o quão deslocada me sinto: danço e rio e canto, mas por dentro apetece-me chorar e gritar e fugir. Não, calma! Fica aí, esquece os outros. Esquece-as a elas.
Sinto os olhares de todos cravados nas costas. Parem! Parem, por favor!
Afasto-me do grupo, afasto-me dos olhares, sou invisível. Respiro.
Observo todos á minha volta. Elas são claramente o centro das atenções: alguns olham descaradamente, ávidos, outros discretamente; uns tentam aproximar-se, outros sorriem e ficam a observar de longe. Que lindas são elas! Que energia, que optimismo emanam! Estou claramente no sítio errado.
Preparo-me para ir embora, mais eis que uma delas vem ter comigo, e puxa-me para o grupo.
Que querida! Aliás, todas! Como gostam de mim... ou daquilo que pensam que sou.
De novo os olhares. De novo os olhares e os sorrisos discriminatórios. Não... por favor! Parem!
Eu não tenho culpa de não ser como elas...! Sim, tenho... Mas não é algo que eu queira! Parem... Não me olhem assim.
Começo a dançar, incontrolavelmente. Porquê? Para tentar esconder o que estou a sentir. Ninguém pode saber, ninguém! Se eu deixar transparecer um fiozinho que seja... nunca mais me deixam em paz.
Danço, danço, danço. Canto. Rio-me. Nunca serei uma delas. Fumo um e outro cigarro. Nunca serei como elas. Cai-me uma lágrima. No meio da confusão ninguém repara, e ainda bem. Horas de ir.
Thursday, 24 July 2008
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